Estudo revela impacto econômico da seca nos municípios gaúchos
Pesquisa aponta que 75% das cidades recuperam a atividade produtiva em até três meses
Uma pesquisa publicada na renomada revista Climate revela dados inéditos sobre os impactos econômicos da estiagem nos municípios do Rio Grande do Sul. O estudo, baseado na análise de notas fiscais eletrônicas, apresenta um panorama detalhado da duração e da capacidade de recuperação econômica das cidades atingidas pelas secas ocorridas em 2020, 2022 e 2023.
De acordo com o levantamento, após cada período de estiagem, pelo menos 75% dos municípios conseguem recuperar a atividade econômica em até três meses. Em cidades menos dependentes do setor primário — um grupo que representa 30% do total — a retomada da normalidade ocorre em menos de um mês. A recuperação mais lenta, com duração entre 10 e 15 meses, atinge apenas um pequeno número de municípios. Além disso, cerca de 23% das cidades não registraram impactos significativos em nenhuma das três secas analisadas.
A pesquisa mostra que a região Metropolitana de Porto Alegre apresenta a maior resiliência econômica, impulsionada pela diversificação produtiva e pela força dos setores de serviços e industrial. Regiões como a Central e a Nordeste também demonstraram rápida recuperação por compartilharem características similares. Em contrapartida, as localidades mais afetadas são, em geral, cidades pequenas, com menos de 10 mil habitantes e alta dependência da agropecuária. Em 2020, a região mais impactada foi a Centro-Leste, seguida pelas regiões Noroeste e Sudeste. Já em 2023, o Noroeste figurou entre as áreas mais prejudicadas.
Entre os setores produtivos, a pecuária foi a atividade mais prejudicada pela estiagem de 2023, o que resultou numa maior demora na recuperação. No mesmo ano, o setor de serviços sofreu mais do que o industrial. Durante os três anos analisados, as perdas acumuladas pelo setor privado devido às secas chegaram a R$ 18,5 bilhões, o equivalente a 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado em 2023, estimado em R$ 640 bilhões.
Políticas públicas e perspectivas futuras
Embora os efeitos econômicos das secas durem menos de 90 dias na maioria das cidades, o estudo alerta para a necessidade de políticas públicas mais efetivas, especialmente voltadas aos municípios mais vulneráveis. Segundo Tonetto, a percepção de que os impactos são temporários pode reduzir o senso de urgência na implementação de soluções estruturais.
“A aplicação deste método às secas no Rio Grande do Sul pode servir como base para avaliar, no futuro, se o tempo de recuperação está diminuindo ou aumentando. Além disso, permite comparações com outras regiões, contribuindo para um melhor planejamento e a formulação de políticas regionais. O estudo também oferece elementos relevantes sobre a relação entre estiagens, características regionais e o tamanho dos municípios, o que serve para fortalecer o planejamento para a mitigação de impactos econômicos e sociais.”, afirma Tonetto.
Publicado em novembro com apoio do fundo de pesquisa da Catalunha, o estudo é de autoria do auditor-fiscal da Receita Estadual e ex-secretário adjunto da Secretaria da Fazenda (Sefaz), Jorge Luis Tonetto, em parceria com Josep Miquel Pique e Carina Rapetti, da Universidade Ramon Llull Universidade La Salle de Barcelona, e Adelar Fochezatto, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O trabalho está disponível no site da Multidisciplinary Digital Publishing Institute (MDPI), que oferece acesso aberto a livros e periódicos acadêmicos. Leia a íntegra do artigo.
Texto: Ascom Sefaz